Sabe criança diante de um balcão de sorvetes? Aquela infinidade de cores e sabores tão deliciosos… Difícil escolher, né? Com os arquitetos acontece algo semelhante na hora de optar pelo vidro certo para um projeto.
Existem parâmetros como funcionalidade, estética e custo que precisam ser respeitados, de acordo com a proposta arquitetônica. Mas ainda assim sobram opções. Neste artigo, a Arq. Audrey Dias explica como escolher o vidro certo.
Saiba como escolher o vidro certo
No tocante à radiação solar, por exemplo: os vidros podem ser filtros inteligentes para equilibrar a quantidade de luz e de calor transmitidos para o interior da edificação. Neste caso, é preciso observar os critérios:
- luminosos (transmissão luminosa, reflexão externa, reflexão interna);
- energéticos (transmissão energética, absorção de energia, fator solar, coeficiente de sombreamento, condutibilidade térmica – valor u);
- estéticos (cor e percepção, índice de renderização).
O principal ponto é avaliar o desempenho do vidro na combinação entre coeficientes lumínicos e energéticos. A NBR 16023 (ABNT, 2011) define nove propriedades térmicas que nos ajudam a entender e a prever o comportamento vidro.
O que analisar no início do projeto
No início do projeto, os principais índices que devem ser considerados na busca do vidro certo são os que caracterizam o comportamento térmico do vidro: Fator Solar (FS), Transmissão Luminosa ou de Energia (TL), Absorção (ABS), Coeficiente de Sombra (CS) e a Condutibilidade térmica (valor U).
O desafio é trabalhar, ao mesmo tempo, critérios de desempenho e aparência: controlar a entrada de calor, filtrar a luz natural, baixar o reflexo indesejável e ainda contar com cores ou aspectos originais dos vidros. Essa equação consiste em adequar a relação entre transmissão luminosa (luz visível) e o fator solar (energia transmitida e absorvida).
Fator solar (FS)
O Fator Solar (FS) representa a quantidade de energia solar que atravessa o vidro na forma de calor. Corresponde à soma entre a parcela da radiação solar transmitida diretamente para o interior e a parcela absorvida no vidro e irradiada para dentro do ambiente. Quanto menor o FS, menos calor o vidro vai transmitir do exterior para o interior.
Transmissão Luminosa (TL)
A Transmissão Luminosa (TL) é a porcentagem de luz visível que passa através do vidro. A TL adequada facilita a entrada da luz ao longo do dia, diminuindo o uso de iluminação artificial. Uma alta TL pode aumentar a quantidade de luz visível disponível nos ambientes, tornando-os mais claros, enquanto uma baixa TL pode adicionar privacidade. O gerenciamento da TL ajuda a evitar o brilho.
Valor U
O valor U representa a velocidade da transferência de calor através do vidro. Quanto menor o valor U, mais lentamente ocorrerá essa troca, ou seja, menos calor o vidro vai transferir. Esse valor é utilizado para dimensionar o uso do ar condicionado das edificações. Veja abaixo os fatores que influenciam na variação da transmitância dos vidros insulados:
- número de lâminas
- espessura do vidro
- espessura da câmara de ar
- emissividade das superfícies
- composição do gás utilizado
Transmitância térmica dos vidros insulados
Geralmente, bons produtos conseguem combinar boa transmissão luminosa com características térmicas elevadas.
A orientação da edificação tem um papel importante no desempenho energético e na produtividade dos ocupantes. O ganho de calor solar e a luz incidente variam ao longo do dia, dependendo do caminho do sol no verão e no inverno. Deixar de lado essa informação pode resultar em ganho excessivo de calor ou problemas de ofuscamento capazes de comprometer o desempenho energético e o conforto de quem usa o edifício. Por isso é tão importante levar isso em consideração na hora de escolher o vidro certo para a fachada.
O arco do sol afeta cada fachada de maneiras diferentes. Confira:
- Fachada Norte: Luz solar indireta durante todo o dia
- Fachada Sul: Exposição solar ao longo do dia
- Fachada Leste: Luz direta em ângulos baixos durante a manhã
- Fachada Oeste: Luz direta em ângulos baixos à tarde
O aumento da eficiência das janelas em razão da escolha do vidro certo gera influências a curto e longo prazo. No curto prazo, há melhoria do conforto e redução do valor da conta de energia. No longo prazo, do ponto de vista global, há maior oferta de energia, redução dos custos, redução da emissão de poluentes e, por consequência, mitigação (alívio) do aquecimento global.
E se a questão é controlar o calor interno, não deixe de tomar um sorvete.
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